Marius aceita o convite do seu amigo João Casqueira para visitar o Alto Alentejo onde nunca tinham estado. Além de visitas a várias vilas, cidade, castelos e desfrutar de uma magnífica paisagem da Serra de S. Mamede, que Marius fará referência no seu «Rumo ao Sul», fez parte do roteiro visitas às ruínas romanas de Torre de Palma (Monforte) e Ammaia (Marvão), as quais o meu anfitrião serviu de cicerone, dando a conhecer vários aspectos da vivência romana nos locais visitados.
Para ti João e esposa o meu agradecimento.
Ponte Romana – Monforte
À saída de Monforte a caminho de Alter do Chão, uma ponte romana dá as boas vindas. Edificada entre os séculos II e IV d.C. em aparelho rusticado do tipo opus caementicium em cantaria e alvenaria de granito, esta ponte está classificada como Imóvel de Interesse Público. Como se pode ver pela foto, e porque aqui Marius caminhou, verifica-se que a ponte teve intervenção recente. O verde das margens tornam o local convidativo para um belo dia passado entre a natureza e a história.
Dizem que esta ponte pode não ser romana, mas é certo que está definida como tal, logo se a definem é porque é!
Torre de Palma
Depois de atravessada a ponte, a 5km de Monforte aparece uma Herdade. No alto das suas Torres, ninhos de cegonhas.
O ar de abandono parece total, mesmo assim marius aventura-se a lá ir. Abre um portão que chia nos seus gonzos, quando tenta entrar teias de aranha roçam-lhe a cara. Estavam desfeitas as dúvidas. Nada mais muge naquela herdade, o falar das suas gentes tinham-se calado para sempre. A meia dúzia de passos outras gentes de outros falares tinham-se calado há mais de 1600 anos atrás, os romanos.
Em 1947, Joaquim Inocêncio lavrava um terreno agrícola no monte de Torre de Palma. O arado bateu num capitel e deixou a descoberto um mosaico de pedrinhas. Nesse mesmo local, a uns 50 cm de profundidade, encontrou um pavimento de pedrinhas coloridas com figuras («mosaico das musas»).
SCOPA ASPRA TESSELLAM LEDERE NOLI. VTERI FELIX (“Não estragues o mosaico com uma vassoura demasiado áspera, boa sorte !”)
O Mosaico das Musas encontra-se exposto no Museu Nacional de Arqueologia - Lisboa
Assim foram encontradas as ruínas de uma VILLA RUSTICA onde uma decerta poderosa família Romana, os BASÍLII, cujo nome é conhecido através de uma inscrição encontrada no local, aí se fixaram.
A VILLA desenvolve-se sobre uma suave colina, junto de um pequeno riacho, em torno de um vasto pátio interior, de forma trapezoidal. As amplas e sumptuosas instalações da VILLA ROMANA, ou residência dos proprietários, dispunham-se por sua vez em torno de um peristylium, pátio quadrangular com um alpendre assente em colunas que tinha um tanque ao meio, o impluvium, e era pavimentado com mosaicos diversos. A entrada principal fazia-se através do tablinum ou sala de recepção, onde se encontrava o célebre mosaico das Musas, daí se passando para o pátio.
O guia foi dando explicações sobre os vários locais visitados. Para além dos mosaicos, havia um local que chamava a atenção. A norte da VILLA encontraram-se as ruínas da Basílica Paleo-Cristão com um baptisfério em forma de cruz, de Lorena, com dois lanços opostos de quatro degraus. Com dois locais distintos, um reservado ao baptismo dos adultos e outro a crianças já se via a influência católica sobre as ruínas romanas.
As sepulturas em aberto, os canais que irrigavam as hortas, os lagares de azeite, de vinho, a forja, os armazéns, os celeiros, a habitação, os balneários Este e Oeste, os locais de culto, tudo isto ainda tratado pela rama pelo IPPAR, não há dinheiro para tudo muito menos para a cultura de um povo, faz com que estas ruínas ainda não estejam devidamente exploradas. Desde 1947 quando a charrua bateu no capitel até hoje, pouco foi adiantado. As intenções são muitas mas só a intenção não chega, há que fazer sentir que a história de Portugal não começou com o povo de D. Afonso Henriques, mas sim com os povos que, no antanho, percorreram os mesmos locais que Marius o está fazendo agora.
Para além do agradecimento ao João, o meu agradecimento ao guia Sr. Francisco (penso que é este o seu nome), pelas explicações dadas acerca destas ruínas. Foi um belo momento passado na Torre da Palma, com pessoas que, sem serem historiadoras, deram o seu melhor e para um leigo como Marius o é em matéria de lagares, celeiros e afins foi como se o ontem fosse hoje pois ainda hoje há lagares a funcionarem como o no tempo dos romanos há dois mil anos atrás.